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Carlos Euler / História

O Pouso Alegre de Carlos Euler

A primeira estação, ao norte de Passa Vinte, seria instalada em um lugar denominado Pouso Alegre. Tal toponímia, segundo as fontes disponíveis, se deve ao fato de que o sítio servia de pouso aos tropeiros e às comitivas que passavam pela região. Eles paravam no local para descansar com sua tropa e ali se estabeleciam temporariamente. A localidade era constituída de muitas terras com mata virgem, vegetação típica da mata atlântica, além dos córregos Bom Será e Bananal, de cachoeiras, minas, morros e serras que encantam e embelezam ainda mais a paisagem natural.

De acordo com a oralidade, entre os séculos XIX e XX, se estabelecem nessas paragens o casal de italianos Corina e Fortunato Nardelli, que se apossaram das terras circunvizinhas à atual Estação de Carlos Euler, onde edificaram uma casa de morada, criaram uma fazenda, e da qual fizeram seu meio de sustento, lavrando a terra e constituindo pastos para o gado. O casal de italianos, com os olhos de empreendedores, ao perceberem a chegada de diversos homens na localidade para trabalhar na construção da linha férrea e das edificações, criaram um comércio local. Eles edificaram, por volta da década de 1910, um imóvel: a Casa Commercial. Tal venda era conhecida como casa de “secos e molhados”, nome utilizado para estabelecimentos que vendiam produtos secos, ou seja, produtos não comestíveis – utilidades domésticas, ferramentas, ferragens, tecidos, armarinho e perfumaria – como produtos molhados – alimentos e bebidas (CHAVES, 2005; CAMPOS, 2005). Ademais, eram servidos almoço e merendas, passando a ser também o ponto de encontro dos empregados da Estrada de Ferro Oeste de Minas e parada para viajantes, caixeiros, comitivas e tropeiros que buscavam e vendiam mercadorias no interior do Brasil.

Além de descansarem e fazerem suas refeições no local, os tropeiros aproveitavam para mostrar suas novas mercadorias ao proprietário, que efetuava a compra e abastecia seu comércio com produtos sortidos. Servia de abrigo também para as tropas de muares, pois, na maioria das vezes, eram elas as responsáveis por levar, até a Estação, as mercadorias despachadas para outras cidades e Estados. Todavia, após a inauguração da Estação e o pleno funcionamento dos trens, as mercadorias ali vendidas passaram a chegar também por meio das locomotivas.

Como apontam Campos e Faria, Minas contaria exclusivamente com as tropas de bestas para transportar sua produção pelas precárias estradas, até que o apito da locomotiva fizesse parte da rotina de muitas cidades mineiras, ao final do século XIX. Porém, mesmo com as estradas de ferro, as tropas continuaram indispensáveis, pois elas é que levavam e buscavam as cargas nas estações ferroviárias ou se encarregavam do transporte em áreas não atendidas pela ferrovia (CAMPOS; FARIA, 2005).

Fortunato Nardelli esteve à frente desse estabelecimento até 1942, ano de seu falecimento.

Infraestrutura em Carlos Euler: adventos da Ferrovia

A Companhia férrea erigiu uma caixa d’água para abastecer suas edificações e as máquinas a vapor ou Marias Fumaças. Esse dispositivo de fornecimento de água, além de servir à Estrada Oeste de Minas, beneficiou os imóveis particulares que foram levantados pela população ao longo dos anos. A água vinha de uma mina localizada a cerca de 800 metros da Estação.

A iluminação provinha da energia fornecida pela Estrada de Ferro Oeste de Minas que também fornecia iluminação a todo o povoado de Pouso Alegre, instalando postes de madeira nos logradouros recém-abertos. Somente, em 1955, a rede de esgoto pública foi implantada no local pela Prefeitura de Passa Vinte e, em 1982, a Cemig passa a fornecer luz elétrica em postes de concreto.

O calçamento foi construído parcialmente na rua principal do local, em 1982, pelo prefeito José Gomes Timóteo. No mesmo ano, a prefeitura também construiu outra caixa d’água, cuja água vinha de uma mina situada a um quilômetro da Estação. O sistema de telefonia por rádio chegou apenas na década de 1990, disponibilizando linhas para toda a localidade.

A estação ferroviária e o desenvolvimento local

A Estação ferroviária do então Pouso Alegre, posicionada no quilômetro 169.454 da Estrada de Ferro Oeste de Minas, foi inaugurada em 15 de junho de 1914 e representou o período tecnológico industrial emergido na segunda metade do século XIX e início do século XX, no Brasil.

Por volta de 1935, podiam-se contar cerca de quinze casas de morada no entorno imediato da linha férrea, além das edificações do próprio conjunto ferroviário. Pelos idos de 1958, o número de habitantes locais era de aproximadamente 400. Assim, deu-se o processo de ocupação local e alteração do espaço.

A chegada das locomotivas ao então Pouso Alegre certamente trouxe muita expectativa aos poucos habitantes, pois era o símbolo da modernidade e do progresso de uma região à época. Sem dúvida, os trens contribuíram para o desenvolvimento urbano, econômico e comercial local. O conjunto da Estação Ferroviária se tornou a porta de entrada e saída de mercadorias, viajantes e notícias, dinamizou os espaços, modificou o cenário paisagístico, a rotina do pacato núcleo populacional e de sua população, que ouvia, constantemente, o ruído da Maria Fumaça e via, de longe, a fumaça sendo expelida, alertando a sua entrada. As pessoas de outras localidades tinham a oportunidade de conhecer aquele núcleo populacional, quando os trens paravam nessa estação.

Casa sede da fazenda onde moraram Corina e Fortunato Nardelli, hoje ainda pertencente aos seus descendentes.

A Ferrovia Centro Atlântica (FCA) surgiu, em fins da década de 1990. Ela deu início às suas atividades logo após o processo de desestatização da RFFSA. Quanto à utilização das locomotivas, o foco principal da FCA é o transporte de cargas, como continua até os dias de hoje, não havendo desde então o transporte de passageiros.

Fonte: Patrimônio ferroviário de Carlos Euler – Passa Vinte-MG de Bruno Sanches Ranzani da Silva / Claudia Vilela / Deyse Marinho Abreu /Luciana Rocha Féres

2 Comentários

  • Nilson
    2 de junho de 2021 at 18:43

    Lindas fotos. Lugar maravilhoso. 👍

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  • Ana Carolina Teles
    30 de maio de 2021 at 17:06

    Texto e ilustrações magníficos 😍

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